domingo, 17 de abril de 2011

Jacarezinho: traficantes são ídolos de crianças na esquina do medo


O menino quer brincar, mas o horário de empurrar carrinhos pela rua já passou. São 2h no cruzamento das avenidas Dom Helder Câmara e dos Democráticos e os garotos, abandonados por suas famílias e pelo poder público, também são incluídos na madrugada violenta. Enquanto os traficantes atravessam a esquina do medo apontando fuzis e pistolas na direção de quem passa por ali, crianças de 8 a 11 anos imitam o gesto do bandidos, mais velhos, com armas de brinquedo.
No monitoramento feito pelo EXTRA, além da ostentação de armas fatais, foi flagrado o disparo que não faz sangrar, mas mata a inocência. Quando o trânsito é interrompido e o bonde domina a rua, os bandidos fazem escola e são transformados em ídolos das crianças. Iludidas pelo poder do tráfico, mas sem um fuzil ou uma pistola de verdade, elas cruzam a avenida com plástico e madeira em forma de terror.Entre usuários de drogas, os menores de idade seguram as "arminhas", como são chamadas nas brincadeiras infantis, e apontam para os motoristas, comerciantes e taxistas. As roupas manchadas têm figuras de desenho animado. Todos usam chinelo de borracha. Evitam pisar no chão sujo, cheio de restos de comida, mas não enxergam obstáculos, policiais ou sociais, para levantar seus fuzis de madeira.
A indiferença dos pedestres incomoda. Ninguém adverte ou tenta retirar os objetos das mãos da molecada. As crianças ainda não entraram na hierarquia do tráfico, mas já conhecem a intensa movimentação entre paióis de armas ou bocas de fumo das favelas de Manguinhos e do Jacarezinho. Como ainda são "café com leite", os menores correm risco constante de atropelamento. Depois que os bandidos com armas de metal, das que disparam chumbo, cruzam a Dom Helder Câmara, os garotos continuam no meio da pista e precisam correr para não terminar sob o assoalho dos carros e ônibus. O susto passa, mas eles voltam uma, duas, dez vezes. São alunos da escola do tráfico.
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